terça-feira, maio 26, 2015

Pertenc(x)e ao futebol

Do esporte bretão como metáfora da vida
Não é combinado, nada proposital. Mas a vida - ou suas enxurrada de acasos, acontecimentos, vácuos e inércia - teima em emparelhar, fazer analogias com o universo do jogo. Do jogo de futebol. E percebo que, no mesmo instante em que minha estimada agremiação carregava um saco de cimento nas costas no segundo semestre do ano passado, estava eu também, labutando, matando leões por dia, tentando encontrar foco que não fosse putaria, para superar leituras e exercícios físicos enfadonhos que me tirassem da zona da confusão de mais de quinze mil candidatos para vaga numa teta estatal. Consegui. Eles conseguiram também.
E, ao chegar ao meio do ano seguinte, o saco de cimento ficou para trás para eles. O berço esplêndido de uma zona de conforto conduziu a mediocridade que predominou em todo desempenho ao longo do ano até aqui, pois, brasileiros, só trabalham com superação com água batendo no pescoço. Para eles. Para mim.
Não consigo avançar em qualquer leitura, em nada que verdadeiramente me cative, pois nada parece me cativar quando se aguarda a aproximação da teta que parece cada vez mais próxima.
Então percebo que não se trata exatamente de falta de planejamento, indolência, má-fé ou similares. A fome nos move, infelizmente, nos saciamos com pouco e rápido demais.
Sobra a necessária ruptura, e isso não é necessariamente um mal em si. Pertence ao futebol.

terça-feira, setembro 17, 2013

Álbum: Mechanical Bull - Kings of Leon

Guitarras com a combinação delay + reverb, lá estão.Vocais com milimétrica rouquidão calculada, rasgados naquele refrão de arena, antecedidos pela conhecida virada da bateria. Baixo de timbre seco, como cereja de bolo entre prelúdios. Tudo está lá. Aquelas duas canções com guitarras mais limpas (apenas distorção), estrutura mais direta, para emular a simplicidade dos primeiros álbuns. As melodias mela-cuecas, que outrora faziam tanto sentido na indústria fonográfica, ainda marcam presença.
E isso já seria suficiente para bater o martelo, nas primeiras audições de Mechanical Bull, afirmando que os agroboys de rock de boutique de Tennessee repetiram fórmulas, e ficaram mais uma vez em cima do muro entre tocar em arenas ou dar um passo adiante no próprio itinerário musical.
Entretanto, não pode negar que eles cumprem o pretendido: os cinquenta minutos são de agradável audição em regra. Cada vez mais internalizo que toda subjetividade presente no juízo sobre um álbum de música pop só tem validade nas experiências individuais que cada indivíduo fará de cada obra. Em suma, a matéria prima que a banda oferece cumpre seu papel, dentro de sua fórmula: caberá ao ouvinte forjar, na singularidade de seu cotidiano, paisagens mentais que tornem músicas como Supersoaker conexões com aquele pôr-do-sol de um improvável sábado, e desta forma, até Wait for me pode ser algo maior que uma trilha pós-saída de um motel qualquer, numa madrugada dispensável qualquer.
Em tempo, Work on me parece ser a pequena joia do disco, com alguma semelhança com os timbres de clássicos do Dire Straits. Tonight sugere a fórmula de Immortals, como Comeback story sugere uma combinação de Knocked up e Backdown south...enfim, primeiras audições, é livre o exercício lúdico de procurar semelhanças com trabalhos anteriores.
A trilha está aí. Espero que os contingentes cotidianos faça desse álbum um senhor álbum daqui a um tempo para mim. Ainda que seja por vias tortas, repleto de momentos mela-cuecas.


terça-feira, janeiro 22, 2013

Stutter

A escuridão não tarda e varre consigo todo lampejo de noites idealizadas, de quando ainda a solidão era um fenômeno sem companhia.
Penso com compaixão em todos que se perderam nas amarras das obrigações forjadas pelo cotidiano, na clausura silenciosa de relacionamentos debilitados desde o seu início, e que só com a morte de alguma parte, se alcança algum tipo de liberdade.
Devo esvanecer com a malemolência própria destas obras condenadas já na fundação. Vou vagar de algum modo, com o antídoto que convir. Um sujeito assaz forte enfrentaria tal dissídio. Não é meu caso.

sábado, abril 21, 2012

Siga la pelota


Havia tempo em que o saudosismo não vinha ao cais, costa banhada por todo presente, por todo realismo cotidiano. Eis que sou surpreendido por uma nostalgia sem sentido, justificada apenas pela lembrança de dias sem grandes temores. Se não havia grandes deleites, fantasmas também não escondiam-se à espreita. Aqueles primeiros dias de 2006 vagam nas entrelinhas da minha consciência agora, clara evidência da necessidade do suave marasmo, da doce companhia do acaso nas caminhadas ao trabalho, no ônibus, no caminho à faculdade. Estes são dias desleais.
As canções que me blindavam nos itinerários urbanos; o crepúsculo boêmio no centro da cidade concomitante ao fechamento lúgubre de cada estabelecimento comercial ao fim de mais uma jornada trabalhista; as viagens nos transportes públicos, observando construção de vultosa ponte que ligava o nada a lugar nenhum, bem como a aproximação de belas ninfetas efêmeras em suas belezas e aparições. Acidentes fortuitos que permeavam momentos banais que eu jamais poderia cogitar serem objetos de nostalgia seis anos depois. Nada de relevante havia ali, a não ser a corrida contra o tempo para se acomodar frente a um televisor para mais um jogo de Copa do Mundo. E como esse vazio de propósito me preenchia de paz e exultação sem eu mesmo supor.
Fico feliz de ter deixado de lado a incessante nostalgia que sempre me acompanhou desde a infância, muitas vezes nostalgia de coisas que nem mesmo vivi. Logo, essa visita inesperada desse sentimento de alguma forma conforta esses dias assíncronos e cinzas. Em referência à metáfora futebolística, é como ser o meio-campo armador de um time estruturado dentro e fora das quatro linhas, estar no auge físico e técnico, receber a bola limpa e com espaço, mas simplesmente nada conseguir produzir por falta de criatividade, alegria, ousadia. Assim transcorre esses dias: sem brilho, sem criatividade oriunda da falta de pretensão daquelas manhãs e tardes lúdicas e urbanas.