domingo, março 05, 2006

Nota de exceção ao repúdio por diários virtuais


Ao cenário não caberia ambiente mais evasivo e sem brilho que a fila de caixa eletrônico em um shopping da cidade. Não podia ser diferente, de fato o dia tinha sido uma merda, mais um daqueles que contaram apenas para o extermínio de mais de 10 milhões de células do seu corpo, que conduzirão apenas a mais um passo do nosso fatídico destino humano. Estava impaciente diante a falta de perspectiva que a cidade proporcionava. Estava na companhia de dois dos mais prezados amigos – o compulsivo Marcelo e o sapiente Danilo( não foi truque de linguagem, juro) – e acabávamos de ter assistido Brokeback Mountain – filme não muito indicado para sábado à noite. Aliás, a esse papel creio que apenas Brilho Eterno(...) e Lost in translation, a ocasião faz-se pertinente. De certo, havia tédio ali.
E então surge Natália. Bom, ela trazia consigo os quatro meses que nos fez apartaide e devo concluir, a generosidade da ação deles para com ela foi inversamente proporcional à minha pessoa. Havia ternura ali, porém minha reação era factualmente (??) mais fria do haveria de ser e do que fora há um ano atrás. Ela olá e eu agora sabia reagir, embora apenas com mais um ola. Ela me abraçou e pude sentir ali todo afeto e repugnância que pode haver em um simples cruzar de corpos. Por um simples ato de favor e compaixão ela o fez, não podia ser de outra forma, educação sempre fora a cereja daquele bolo. Tentei prolongar aqueles segundos com alguma futilidade porém não dava mais para esconder: ela já devia esvair-se como o perfume renovador das plantas no mês de dezembro. Não dava mais para esconder: eu já era um alguém mais velho.
Sua cortesia cessou e meu dia voltou a ser aquele sábado merda, mais um daqueles que contaram apenas para o extermínio de mais de 10 milhões de células do seu corpo, que conduzirão apenas a mais um passo do nosso fatídico destino humano. Perdoe-me o paciente leitor a evidente ausência de um sopro qualquer poético e discursivo que seria tão necessário a essência deste texto dada a importância do fato relato. Dane-se de qualquer, Machado também não conseguiu descrever as lacunas subentendidas daqueles momentos que nos acontecem sem razão de existir. Eis o calcanhar de Aquiles da literatura, quiçá da arte.
Devo encerrar este ressaltando que após uma Brahma Malzebier e um bolo mesclado na companhia do amigo Marcelo, as vária voltas cegas que costuramos na Aracaju City fizeram-me adormecer doentiamente sem banho e sem alimento ao início da madrugada, entretanto sem nenhum ressentimento com a vida ou dor qualquer, agora contamina-me apenas a fadiga semanal. Portanto, uma noite cabível à análise meramente descritiva por um desses diários narcisísticos virtuais qualquer. Pedantismo.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

esse texto me transportou para um tempo não tão distante... o tempo em que escrevi - da minha maneira algo que mais tarde seria conhecido como blog, os meus lamentos, sem contexto filosófico, mas com traço próprio, assim como o seu.
abraço
"O compulsivo"

julho 22, 2008 4:03 PM  

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