quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Digressão segundo o astronauta

Trôpego e diluído nas encostas da cidade, assim eu me arrastava e identificavam-me. A primeira vez que a vi, tomou os contornos mais complexos e elaborados que minha percepção concebera até então; minha concupiscente mente não tardou em simplificá-la e convertê-la em objeto de standardização para fantasias à posteriori, fantasia no sentido mais pueril. Porém, sua existência por si só a afastava daquele patamar hostil e a incidência dos raios ultravioleta de Aracaju ofertava um raro brilho àquela matiz. Melífluo sorriso.
Em uma manhã impotente em potencial o acaso a atirou em minha compania e por duas horas lânguidos sussurros conferiram algum valor a existência daquela realidade, salto para um plano justo e inconcebível até então, onde Juliana segura a minha mão pela primeira vez como projetasse em mim de certa forma alguma fortaleza. Tenho agora alguma fortaleza para erguer-me por pelo menos duas semanas nas alvoradas sem perspectiva da cidade cálida.
Caminhamos veredas ordinárias, esboçamos momentos singulares: a existência daquela compania ali confortava , abarcava e justificava todas as mazelas do mundo, ora, já havia tábua de salvação para os dias cinzas. Como era evasiva nossa conversa, como era doce meu nome pronunciado em sua boca.
Naturalmente haveria de se esvair tudo aquilo e como um astronauta que emerge da Terra e vê a si mesmo distanciando do globo azul ao passo que sente o infinito escuro o esmagar testemunhado por astros transeuntes. Juliana era fria e centrada apenas naquilo que seu campo de visão compreendia, quiçá o que seu vago pensamento agregava (vide seu olhar perdido) porém insólito era aquele espírito em meio àquela enxurrada de acidentes ambulantes que nos rodeavam.A esperei em vão no estacionamento. Por hora, insisto em sobrepor-me a atuação da gravidade.