terça-feira, março 24, 2009


Apoteose, 20 de março 2009, Rio de janeiro.

Somente a necessidade óbvia de se fazer um último registro, sem contaminação do cotidiano que espera-me à espreita, da experiência de ser testemunha ocular do show da banda inglesa Radiohead, me faz tentar vencer o sono e expor breves comentários sobre tal momento mágico. O jogo começou com um placar bem desfavorável, pois como não era de se esperar, os horários previstos foram cumpridos e nossa dedução pelo atraso nos fez perder o show dos cariocas do los hermanos. O público também me parecia hostil, nada havia do espírito carioca, apenas o cenário- o sambódramo- que serviu de passarela para jovens “estereotipadamente clubbers paulistas” ostentarem seus óculos escuros, o visual cool mtviniano e comentários podres quando estes ecoavam aos nossos ouvidos.A cerveja custando 5 reais e um tanto quente também estava longe de oferecer uma contribuição favorável. Nos restava o show do Kraftwerk pra quebrar a ansiedade. Bom, sobre este escreverei posteriormente. Vou precisar de fotos – o anexo visual é intríseco a qualquer comentário sobre a apresentação desta banda alemã- visto que a sua música...bom a sua anti-música concreta não nos colabora para nos prendermos somente a ela para análise.
Em suma, só restava o Radiohead. E era justamente por eles que ali estávamos- 3 mochileiros de terras longínquas- toda frustração até aquele momento deveria ser esquecida. E foi; logo ao soar as primeiras batidas sintetizadas de “15 step”: “How come I end up where I started? How come I end up where I went wrong?” nos indaga para o começar a viagem audiovisual que os nerds de Oxford iria ofertar nas próximas duas horas. Em seguida, as guitarras de Airbag remetendo a atmosfera gélida do “Ok Computer” aquecem para uma sequência interminável de canções impactantes, seja pelas batidas compassadas (There There),seja pela melancolia divagante ( “All I need”, “Nude”) ou pelas linhas de cordas incofundíveis e características do quinteto (“Bodysnatchers”, “Jigsaw Falling into place”, “Paranoid Android”).
As batidas eletrônicas de Idioteque nos conduzem do nirvana ao caos e isso já teria justificado tudo, mas ainda havia espaço para as fáceis Reckoner, Just, House of Cards.
Após 2 bis, a perfomace inquietante de Thom em You and Whose army, o baixo grudento de The National Anthem e os backvocal fantasmagóricos cantados em coro por 24 mil pessoas de Weird Fishes, o Radiohead tira o último coelho da cartola com uma versão que renega qualquer adjetivos de Creep. A sincronia das entradas do riff da guitarra juntamente com o jogo de luz branca,aos 47 do segundo tempo, pontuou uma apresentação histórica daquela que provavelmente vai continuar sendo a banda com maior arsenal de recursos técnicos, criatividade e originalidade do rock nos últimos vinte anos, tudo em terras tupiniquins. Vida longa ao Radiohead e seu arco Iris de infinitas matizes, escapismo para os dias vindouros.


Obs.: o show contou ainda com: The Gloaming, Faust Arp, No surprises, I might be wrong, Street spirit, How to disappear completely, videotape, everything in the right place.

Obs.2 Pela primeira vez, vi uma banda tocar um cd inteiro num show.Foi o caso de In Rainbows. Isso é mais interessante quando essa banda tem mais 20 anos de estrada a bagagem do Radiohead.