quarta-feira, março 15, 2006

Memórias não tardam a despertar horas já há muito consumadas, durante a insônia não tarda uma hibernação tardia e antagônica. Fez-se prolongadas as incógnitas naquela mente e mesmo assim o soturno olhar castanho por si só ou à companhia dos escuros cabelos de pontas também castanhos, explicaria toda aquela confusão e angústias. Um pássaro alça ao vão vôo neste instante na janela apedrejada.
Vazio o abraço, insosso e cativante o sorriso, pois agora as rodovias entrelaçaram-se para levá-la ali, longe de ti. Vazou o eco daquele sussurro e a cidade já não se espanta com o sonoro e incerto sarcasmo de Natália. A narrativa não desenrola-se eloqüente, outrora talvez o foste, porém orações não exprimem a sutileza daqueles movimentos tão comuns a todos e tão pertinentes àquela figura pueril feminina, ninho da fértil cobiça animal pelo coito, cobiça minha, lúgubre compaixão à espécie humana. Repousa ao caos.
Delirante, refugou-se no famigerado ópio rotina, o qual permitira-o na perda da liberdade pessoal sobre o consentimento coletivo, a adoção de ludibriantes parâmetros de gozo, falsa satisfação válida por vinte e quatro horas, inútil ao entregar-se ao repouso da consciência na alcova à noite, inútil ao despertar de seus escrúpulos. Algo se desprende, neste instante.

domingo, março 05, 2006

Nota de exceção ao repúdio por diários virtuais


Ao cenário não caberia ambiente mais evasivo e sem brilho que a fila de caixa eletrônico em um shopping da cidade. Não podia ser diferente, de fato o dia tinha sido uma merda, mais um daqueles que contaram apenas para o extermínio de mais de 10 milhões de células do seu corpo, que conduzirão apenas a mais um passo do nosso fatídico destino humano. Estava impaciente diante a falta de perspectiva que a cidade proporcionava. Estava na companhia de dois dos mais prezados amigos – o compulsivo Marcelo e o sapiente Danilo( não foi truque de linguagem, juro) – e acabávamos de ter assistido Brokeback Mountain – filme não muito indicado para sábado à noite. Aliás, a esse papel creio que apenas Brilho Eterno(...) e Lost in translation, a ocasião faz-se pertinente. De certo, havia tédio ali.
E então surge Natália. Bom, ela trazia consigo os quatro meses que nos fez apartaide e devo concluir, a generosidade da ação deles para com ela foi inversamente proporcional à minha pessoa. Havia ternura ali, porém minha reação era factualmente (??) mais fria do haveria de ser e do que fora há um ano atrás. Ela olá e eu agora sabia reagir, embora apenas com mais um ola. Ela me abraçou e pude sentir ali todo afeto e repugnância que pode haver em um simples cruzar de corpos. Por um simples ato de favor e compaixão ela o fez, não podia ser de outra forma, educação sempre fora a cereja daquele bolo. Tentei prolongar aqueles segundos com alguma futilidade porém não dava mais para esconder: ela já devia esvair-se como o perfume renovador das plantas no mês de dezembro. Não dava mais para esconder: eu já era um alguém mais velho.
Sua cortesia cessou e meu dia voltou a ser aquele sábado merda, mais um daqueles que contaram apenas para o extermínio de mais de 10 milhões de células do seu corpo, que conduzirão apenas a mais um passo do nosso fatídico destino humano. Perdoe-me o paciente leitor a evidente ausência de um sopro qualquer poético e discursivo que seria tão necessário a essência deste texto dada a importância do fato relato. Dane-se de qualquer, Machado também não conseguiu descrever as lacunas subentendidas daqueles momentos que nos acontecem sem razão de existir. Eis o calcanhar de Aquiles da literatura, quiçá da arte.
Devo encerrar este ressaltando que após uma Brahma Malzebier e um bolo mesclado na companhia do amigo Marcelo, as vária voltas cegas que costuramos na Aracaju City fizeram-me adormecer doentiamente sem banho e sem alimento ao início da madrugada, entretanto sem nenhum ressentimento com a vida ou dor qualquer, agora contamina-me apenas a fadiga semanal. Portanto, uma noite cabível à análise meramente descritiva por um desses diários narcisísticos virtuais qualquer. Pedantismo.

sexta-feira, março 03, 2006

sinto cansaço e não é pra menos, já são 2 da manhã e nem lemrbo onde deixei os minutos que sobraram do dia exaustivo. Tomei alguma cerveja preta com meu caro primo, vi o céu estrelado com meus pais em uma praia perdida, vi uma estrela cadente e acabei morgando por aqui mesmo. o que há de poético nisso?bom, nada. exceto a estupidez desta persistente inércia que vem deflagrando meus dias.
ando pensando muito no meu passado. acho que isso não é bom. acho que devo encerrar. acordam-me meus escrúpulos.

quinta-feira, março 02, 2006

Para além do ermo

Vibra-se a música ponto ao silêncio eloqüente. Fustiga-se o prazer concupiscente voraz, alternando pulsações sangüíneas em uma mente doentia, em uma alma profana. Murmúrios escandalizavam a nação, a práxis oculta durante o ano inconsciente revelava-se avassaladora e apassivadora. Luxúria e devassidão sobre um ar pesado entretanto virtual, não havia ali possibilidade concreta do coito. Coito proibido, coito não concedido , coito amoral, ilegal. Desejava ardentemente aquele objeto reificado feminino. Alma libertina.
Sujeitos cortam o aglomerado e o sol cruel arde os hormônios de todos, de todas. Imbecis cercam a fonte deste registro, cogito a deixa de abatê-los e a vivência seria mais limpa e justa. Encerra-se o crepúsculo.
A dama única aprisiona-me no terno olhar e agora revive-se o lirismo clássico em um cenário a princípio hostil e não condizente com aquele flerte. Entrego-me em três baterias de olhares, média dois segundos cada e já não existe condição vital de prosseguir neste mutualismo urbano sem ela. A sigo e segue a penumbra traficante de enigmas, pois ela voltará em instantes e não a alcançarei em tempo e coragem suficiente. Idade/maturidade mera convenção tola social seguida de certa dissonância melódica.
Esvaiu-se ao dobrar aquela esquina tomada de ébrios, proporcionais à sua existência fútil pertinente a latrina. Mentecaptos acordam-me: Esqueça, vamos, mais uma. E desfaleço em sonho fétido, dali veja o pueril: era apenas uma garota de blusa preta, saia jeans, all star preto e uma tatuagem no tornozelo. Dali veja o pueril.