quinta-feira, maio 28, 2009

Sebástian contempla

Sebástian contempla o zumbido do avião que rompe a madrugada fria que insistia em flertar com o silêncio. Tola madrugada, talvez não soubesse, ou fez que não, que Sebástian a contemplava e ali, por si só, rompia aquele silêncio. Jovem Sebástian, contempla a invasão desse vento gélido por todas as brechas, da janela ao telhado, traz consigo um pouco da solidão da noite lá fora, leva daqui um pouco da solidão de dentro, do quarto, de Sebástian, do jovem Sebástian, e da humanidade não tão jovem que ele carrega em si, embora não saiba.
Sebástian contempla lâmpadas artificiais dos postes ofuscando campinas de estrelas esmagadas, aos poucos são poucas estrelas, pobres estrelas, coadjuvantes destes postes aquecidos pela força do mar em algum lugar, mas não tão coadjuvantes para Sebástian, que sobrepõe sua mão frente à iluminação que advém dos postes, só tem olhos para as estrelas. Talvez porque elas, naquele mesmo intervalo de espaço e tempo, represente o único elo que de alguma forma o conecta com aquela que certamente não está a espera de Sebástian, que a espera à espreita, seguindo palavras, buscando estrelas e acima de tudo, contemplando.
A inércia parece debater-se sobre Sebástian, que já parece um tanto bestial. Bestial para mim, para você, para àquela a quem ele espera à espreita, talvez até mesmo para agora já única e solitária estrela, que teima constrangida em não se esvair entre nuvens carregadas como as demais, constrangimento justamente por crer que o jovem Sebástian só tem a ela para contemplar. Sim, pois nem a chuva parece querer dar o ar da graça.
Eu quero avançar para minha alcova, tu, sei que queres também; a desejada por Sebástian certamente já embebedece agora do quinto sono, a derradeira estrela pôs seu último contorno entre as nuvens carregadas, mas parece que já levamos um pouco da indiferença de Sebástian conosco. Nos remexemos de um lado a outro em nosso leito e o sono teima em vir, talvez porque sejamos cúmplices de toda inércia, de toda bestialidade do jovem Sebástian.
E Sebástian contempla.Teima, teima, teima...