sábado, abril 21, 2012

Siga la pelota


Havia tempo em que o saudosismo não vinha ao cais, costa banhada por todo presente, por todo realismo cotidiano. Eis que sou surpreendido por uma nostalgia sem sentido, justificada apenas pela lembrança de dias sem grandes temores. Se não havia grandes deleites, fantasmas também não escondiam-se à espreita. Aqueles primeiros dias de 2006 vagam nas entrelinhas da minha consciência agora, clara evidência da necessidade do suave marasmo, da doce companhia do acaso nas caminhadas ao trabalho, no ônibus, no caminho à faculdade. Estes são dias desleais.
As canções que me blindavam nos itinerários urbanos; o crepúsculo boêmio no centro da cidade concomitante ao fechamento lúgubre de cada estabelecimento comercial ao fim de mais uma jornada trabalhista; as viagens nos transportes públicos, observando construção de vultosa ponte que ligava o nada a lugar nenhum, bem como a aproximação de belas ninfetas efêmeras em suas belezas e aparições. Acidentes fortuitos que permeavam momentos banais que eu jamais poderia cogitar serem objetos de nostalgia seis anos depois. Nada de relevante havia ali, a não ser a corrida contra o tempo para se acomodar frente a um televisor para mais um jogo de Copa do Mundo. E como esse vazio de propósito me preenchia de paz e exultação sem eu mesmo supor.
Fico feliz de ter deixado de lado a incessante nostalgia que sempre me acompanhou desde a infância, muitas vezes nostalgia de coisas que nem mesmo vivi. Logo, essa visita inesperada desse sentimento de alguma forma conforta esses dias assíncronos e cinzas. Em referência à metáfora futebolística, é como ser o meio-campo armador de um time estruturado dentro e fora das quatro linhas, estar no auge físico e técnico, receber a bola limpa e com espaço, mas simplesmente nada conseguir produzir por falta de criatividade, alegria, ousadia. Assim transcorre esses dias: sem brilho, sem criatividade oriunda da falta de pretensão daquelas manhãs e tardes lúdicas e urbanas.